quinta-feira, 24 de março de 2011

Nada mais que morte lenta


Nada mais... 
Não preciso de mais nada se puder ter-te a ti.
Nada mais...
Se quiseres ficar ao pé de mim.

Já ambicionei ter muito mais na vida
Já quis ser o que não pude no passado
Já quis cantar uma canção esquecida
Mas tudo isso está morto e enterrado.


Já quis pintar a Lua de mil cores
Pois achei que era nada demais
Já quis livrar o mundo de suas dores
Já quis tudo isso e nada mais.


Hoje apenas quero ter o meu próprio mar
Em que mergulhamos e ficamos imortais
Lentamente irei ver o mundo a definhar
Ver todos nascer para morrer e nada mais.


Há quem tenha tudo sem nada ter pedido
Há quem peça tudo sem nunca ter nada
Há quem morra sem nunca ter vivido
Há quem viva numa morte animada.


Não sei onde termina a nossa vida
Nem sei se realmente existe um fim
Mas se a morte só tem bilhete de ida
Posso dizer que morreste em mim.


Contigo a vida tem logo outra cor
Contigo a vida é um lago de ternura
Sem ti a vida não tem qualquer calor
Tornando o lago em rios de amargura.


A vida dá-te o que a morte te nega
A vida pode ser colorida ou cinzenta
A vida apressa o que a morte sossega
A vida é nada mais que a morte lenta...



by
Scorpshine

quarta-feira, 23 de março de 2011

Amor proibido


É nas profundezas da mais densa escuridão que encontro o amor, o meu amor...
Tentei busca-lo sem sucesso nas entranhas de mil desejos devorados pelo Adamastor do Cabo das Tormentas da Tua Ausência, tudo o que restou foi um plano, um plano de emergência.
Saí decidido a encontrar-te onde quer que estivesses escondida ou aprisionada, mesmo sem saber de ti olhei o céu e procurei Vénus, o astro que sempre me conduziu até ti... a Lua sorriu e assim soube que por maior que fosse a distância a percorrer encontrar-te-ia no final de uma jornada conduzida pelo coração sempre a favor do vento.
O Sol nasceu e sua luz derrotou as trevas que me desafiavam para uma batalha épica há muito iniciada, os bosques balançavam ao som da minha passada e seus ramos rangiam como que tambores de guerra anunciando o começo do próprio fim, o fim de um pesadelo que insistia em permanecer soberano sobre todos os meus sonhos dos quais tu fazias parte, ocultando impunemente o teu sorriso do meu olhar no alto de uma torre isolada do resto do mundo... isso tinha que acabar!
Eu não vacilei, não desisti, simplesmente confiei...
Segui em direcção ao som do chamamento que aclamava o meu nome, aquela doce voz que ecoava num labirinto de incertezas só podia ser a tua, mais nenhuma voz me fazia tremer de paixão e angústia de saudade quanto aquela que pairava sobre mim na tua ausência, eu sabia que eras tu, mesmo que subtil e quase impercetível, poderia reconhece-la vinda e perdida de entre uma multidão.
Completamente desarmado caminhei na perseguição da conquista de um momento sem saber muito bem o que o guardava e protegia, mas estava tudo a meu favor e sem nada a perder torna-se bem mais fácil enfrentar o desconhecido, nem sequer é necessário ter coragem, apenas necessitamos de uma boa dose de insanidade e espírito de aventura para que no momento de ganhar ou perder, a mesma gargalhada sentida possa fluir de nós como que um rugido de irreverência que informa o mundo da impossibilidade de nos derrotar... sem nada a perder eu fui para vencer!
Não havia prémio nem vitória, não era disso que se tratava, havia apenas uma nobre causa que se resumia a tocar um fio de cabelo que fosse, simplesmente queria tocar o teu olhar com o meu, ouvir a tua voz trazida pelo vento à distancia de um abraço, não pedia mais nada...
Finalmente no alto de uma torre desprotegida avistei o azul do céu rasgado por fios de ouro negro e um brilho resplandecente iluminou a minha vida naquele momento, um sorriso rasgado emanava uma melodia saudosa e audaz na minha direcção... soube então que era a hora de baixar a guarda e correr para o fundo da escadaria. Não pude deixar de te contemplar descendo degrau a degrau, passo a passo envolta no próprio céu, o céu era a tua roupa nesse dia, talvez os deuses te tenham emprestado sua roupa ou talvez não tenha passado tudo de um lindo sonho que nunca aconteceu...
Se era sonho, não esperei por acordar e encerrei-te no meu mais sentido e profundo abraço na tentativa de te esconder do mundo inteiro, beijei-te tanto quanto pude e arrastei-te para as masmorras, numa pequena cela vazia sabia que estaríamos a salvo de olhares indiscretos e assim poderia começar finalmente o verdadeiro sonho, um curto sonho que deveria ter durado até agora e perdurado até que o Sol se extinguisse e nunca mais nascesse...
Encostei-te contra as grades e debaixo do céu que te envolvia reencontrei a minha praia de desejos, o pomar de frutos proibidos mas tão deliciosos que sempre me impossibilitaram de resistir ou sequer tentar...
Beijei-te, mordi-te, abracei-te e durante todo esse tempo finalmente amei-te esquecendo que não tardaria muito a hora de partir e de me despedir... a despedida, essa hora amaldiçoada que ainda não era chegada mas que cá por dentro já me dilacerava...
Ainda não era hora de partires e vires comigo, era eu quem ia partir e só o meu perfume ficaria contigo, a marca da promessa de um dia voltar acompanhado de um exército para te resgatar... e assim farei, assim será num futuro breve e incerto escrito em solo lunar para nunca se apagar...



by
Scorpshine

terça-feira, 22 de março de 2011

Resgate


Por muito tempo eu quis salvar e resgatar-te de um mundo ao qual não pertencias
Sem nunca imaginar que no fundo apenas queria ter-te para sempre a meu lado
Talvez tenha sido apenas egoísmo de um coração que sonhou que existirias
Num outro mundo em que viveríamos para sempre num sonho encantado.


Quando a vida floresce a partir de um golpe de sorte
Tudo quanto é mau parece finalmente ter o seu final
De repente a sensação de que se extingue a morte
Dá lugar a sonhos de alcançar uma felicidade imortal.


Mas a dura verdade não tarda muito a revelar-se novamente ao mundo
Fazendo assim cair por terra todas as esperanças de um dia te resgatar
Queria muito roubar-te, raptar-te, levar-te, mas sei bem que lá no fundo
De nada me iria adiantar porque já estás sempre comigo mesmo sem estar.


Mas levar-te-ia por esse mundo fora
Onde ninguém nos pudesse encontrar
Mostrar-te-ia a importância do Agora
Beijar-te-ia até a morte nos afastar.


E cada dia seria o nosso último momento para amar
Cada noite seria a última vez que veríamos a Lua
Cada pôr-do-sol seria o último a poder recordar
E cada madrugada seria eternamente minha e tua.


Vem comigo
Fica comigo
Sonha comigo
Acredita comigo...



Sonhar sozinho é como ser livre em cativeiro
Viver sem ti é tão triste quanto não ter amor
Acreditar sozinho é como mentir ao mundo inteiro
Partir sem ti é como sorrir perante um dissabor.


Além de tudo o resto já não me apetece viver mais na tua ausência
Fiquei cansado de me forçar a viver algo que sem ti não faz sentido
Eu bem que te persigo no Passado para alegrar a minha existência
Mas não adianta porque sem ti é como se eu já tivesse morrido.

Torno-me num fantasma a deambular
Fico entregue a um sonambulismo
Continuo vivo e a caminhar
Mas sempre em direcção ao abismo...



by
Scorpshine

segunda-feira, 21 de março de 2011

Perdas e desejos



Sempre que penso em ti sinto que estou finalmente acordado
Mesmo que divagando por um grito de meu coração amordaçado
Procurando acima de tudo o deslindar de uma eterna paixão
Vivo na esperança de adormecer embalado ao som do teu coração.


As estrelas cadentes raramente concedem nossos desejos pedidos
Mas nem por isso deixamos de pedir e continuar a acreditar
Vamos pedindo insistentemente até que uma estrela nos dê ouvidos
E nos devolva aquilo que tanto sonhamos poder recuperar.


Umas vezes somos atendidos 
Outras vezes ignorados
Assim ficamos ofendidos
Ou então maravilhados.


Certo é que nem sempre desejamos aquilo que queremos
Por vezes apenas queremos aquilo que tanto desejamos
Talvez por isso nem sempre amamos aquilo que temos
E consequentemente perdemos aquilo que tanto amamos.


A perda revela sempre lições que julgávamos já ter aprendido
Mas só perante o vazio é que fica a lição sabida e decorada
Não é em livros nem nas palavras de um amigo já vivido
Que aprendemos o quanto dói fazer a escolha errada,

Mas ainda assim tentamos fingir que sabemos tudo
Perseguimos um ideal que só existe em histórias
Depois culpamos Deus ou culpamos o Cornudo
Abandonados ao desalento de crenças em vitórias.

Umas vezes ganhamos
Outras vezes perdemos
Umas vezes choramos
E quase sempre aprendemos...


E nem sempre nos apercebemos
Que ao perder estamos a ganhar
Ganhamos certeza do que queremos
E do por que vale a pena lutar!


Ninguém nasce ensinado e se assim fosse não teria graça alguma
A graça da vida está no cair e levantar, no aprender e ensinar
Aprender dói e ensinar por vezes também não tem piada nenhuma
Mas é a dor que nos fará para sempre lembrar o quanto dói errar.


Por isso sofro porque errei
Mas não erro porque sofri
Quero-te porque sempre te amei
E não porque um dia te perdi...





by
Scorpshine

sábado, 19 de março de 2011

Um sonho perfeito


Há sempre um tempo certo para tudo na vida, há o tempo certo para chegar, para partir e para voltar.
Em ti encontrei um pouco de todos esses momentos certos, um dia chegaste, um dia partiste e finalmente um dia voltaste. 
Seria ingrato não te dizer que amei cada momento a teu lado, mas sobretudo amei ver-te chegar e amei tanto porque chegaste como nunca ninguém chegou, em muito pouco tempo tocaste-me como nunca ninguém me tocou e acima de tudo conquistaste-me como jamais alguém me conquistou.
Lembro-me com um sorriso na face que vieste como uma brisa do mar num dia de calor, doce e refrescante, inesperada e marcante... lembro-me que chegaste decidida e em pezinhos de lã, recordo-me ainda hoje do beijo que me enviaste no dia seguinte logo pela manhã carregando a tua imagem, a imagem de uma serpente tentadora que para além de tudo o mais era a imagem de uma mulher linda e sedutora.
Não tenho qualquer memória de algum dia me ter sentido assim, completamente fascinado sentindo que alguém lutava por mim, foste a única mulher que embarcou nessa aventura de me conquistar e de facto, não custou nada, em menos de nada era só em ti que eu conseguia pensar.
Não sei se algum dia tentei sequer resistir ao turbilhão de sentimentos que sem fazeres nada me fazias sentir, mesmo sem te conhecer eu sabia que eras tu quem eu queria encontrar e que no próximo amanhecer era contigo que eu queria acordar...
É sem qualquer dificuldade que relembro a primeira vez que a tua voz chegou até mim ecoando contra as paredes do meu coração e assim apagando qualquer rasto de solidão, para toda a eternidade ficou a melodia que me embalou num terno sonho que me absorvia noite e dia.
Por muitos anos vivi na incerteza de quem serias tu, de como serias e se algum aparecerias, mas foi muito fácil de te reconhecer, o teu olhar dizia-me tudo o que eu queria saber...
Era no calor das noites em que me visitavas que via dentro de ti a Lua nascer, mas era um eclipse lunar sempre que ias embora sem que nada eu pudesse fazer, apenas podia aceitar a tua partida contendo as minhas lágrimas a cada despedida, depois ficava a sonhar com o momento mais que perfeito em que eu e tu estávamos num paraíso, um lugar longínquo adornado pelo teu sorriso... sentados na areia à beira-mar, beijava os teus lábios e pedia 
aos deuses para nunca mais acordar...





by
Scorpshine


sexta-feira, 18 de março de 2011

Sem ti


Estás tão longe...
Passo horas a fio a pensar em como poderia chegar até ti, em como poderia quebrar as regras e as barreiras impostas por esta vida que tem tanto de bela quanto de injusta, queria tanto estar contigo...
É necessário recuar ao passado para te abraçar e sentir o teu calor em momentos de paixão e emoção, momentos fugazes que duravam minutos, outras vezes horas, mas que independentemente de sua duração ainda hoje perpetuam na minha memória e na minha alma.
Hoje penso que nem sempre soube aproveitar cada momento que o Passado nos concedeu na devida altura, mas estamos sempre a tempo de corrigir nossos erros, é por isso que hoje recuo tantas vezes no tempo para desfrutar de cada segundo, de cada beijo, cada palavra, cada sorriso, cada abraço...
É um mistério ainda por desvendar o porquê de termos seguido rumos diferentes, acho que era realmente necessário afastar-mo-nos para entender e compreender-mo-nos como nunca o conseguimos anteriormente, foi um mal necessário que nos fez muito bem.
Eu encontrei a liberdade que tanto desejava e pude então compreender que ser livre não é estar sozinho nem fazer o que bem dá na cabeça, tu por outro lado encontraste alguém que te mostrou o reverso da medalha e sentiste na pele tanta coisa que até então também não compreendias porque há coisas que só mesmo a vida nos consegue ensinar.
Hoje vivemos um amor bandido que se divide entre aquilo que devia e não devia ser, entre aquilo que devia ou não acontecer, já é assim há uns bons tempos, cheguei a querer fugir de ti mais uma vez por isso mesmo, mas não consigo, percebi que nem o facto de não seres exactamente livre me consegue fazer abandonar este barco que navega por mares calmos ou bravios, é um quebra-gelo, é um submarino que afunda mas sem nunca naufragar.
Em tempos tive a ilusão de que o nosso amor teria perecido por ser fraco, mas quando me voltaste a procurar percebi imediatamente que o fraco fui eu por não saber lidar com um amor tão forte, mas agora entendo tudo, tornou-se claro como água que és tu, foste sempre tu e serás sempre tu...
Não importa por onde andas, com quem nem para onde vais, estaremos para sempre unidos e presos a um amor que se recusa a morrer, em vez disso continua a crescer sem que nada possamos fazer...




by
Scorpshine

quinta-feira, 17 de março de 2011

Lua Ardente






A noite vem sempre ao encontro de mim numa ténue dança de magia e sedução, tal como tu...
Passo o dia inteiro à sua espera e na esperança que com ela também tu chegues a serpentear por entre as estrelas como se fosses um rio de sonhos nascido do Mar da Tranquilidade descendo desde a Lua até ao meu coração.
É no meio da escuridão que te observo a meu belo prazer vislumbrando o teu sorriso à luz do luar debaixo de uma teia de momentos perdidos e enublados pelo tempo que não perdoa a nós, meros mortais.
O Sol esconde-se nas colinas da saudade e docemente vai perdendo o seu brilho, antecipando elegantemente a tua chegada ao nosso Novo Mundo, ao nosso livro de páginas brancas que ainda se encontram por escrever.
As nossas almas perdoam e culpam-se mutuamente pelas viagens ainda por fazer na rota de um destino incerto mas inevitável, um destino que teima em nos unir num fraterno laço inquebrável que coisa alguma consegue separar...
A Lua nasce ardente como um braseiro e lembra-me que só mesmo tu me incendeias o coração e a alma, como se até à tua chegada eu fosse apenas um vulcão adormecido... mas só até tu chegares.
Sempre que chegas tudo perde a importância involuntariamente, sem que haja sequer uma escolha alternativa, limito-me a ceder ao anseio de correr para os teus braços e abandonar-me à sorte que este amor me reserva há tanto tempo em segredo, segredo esse escondido nas linhas da palma das nossas mãos.
A Lua parte mas regressa em novas formas, no entanto, sempre mais bela e misteriosa...tal como tu meu amor, por isso, não deixes nunca de ser quem és, não percas nunca o teu brilho tão próprio que mesmo quando se encontra pálido e desmaiado, continua a ser o brilho que me conquistou um dia para nunca mais me desocupar o coração...
Podes ir minha amada, eu ficarei à espera do próximo pôr-do-sol que com certeza te trará de novo até mim... mas não demores, custa-me imenso estar sem ti...





by
Scorpshine

Mentiras Divinas


Perdia-me ao passo que era encontrado...
Desesperava enquanto era amaldiçoado...
Roguei perdão mas já tinha a sentença lida...
Sujeito-me agora ao Julgamento Divino...


Esta noite vim aqui parar sem que fosse isso uma opção
Dizem Eles que fui condenado a Julgamento por traição...

Mas que coisa mais sem cabimento...
Afinal o que é que há para me julgar?
Eu cá só sobrevivi ao sofrimento
Que me fizeram suportar...

Estive ciente das Leis impostas
Impostas por Impostores
Que fazem leis e viram costas
Mas somos nós os pecadores...

Ao que entendo existe um jogo
Entre os eternos Bem e Mal
E os Justos são os peões
Que não morrem no final,

Deus controla os benfeitores
Tentando destruir todo o Mal
O Diabo controla os malfeitores
Numa batalha sem final,

Ao que entendo não somos mais
Do que meros espectadores
Ao que entendo Eles não são mais
Do que diferentes Ditadores.

Eles ditam as leis que nos regem
Operam milagre ou maldição
Em troca apenas nos pedem
Que Lhes proporcionemos diversão,

Tal como um touro na arena
Cada um de nós é espicaçado
E aquele que matar o "toureiro"
É ao Inferno condenado.

É bonito de ser ver
O quão belas são as regras
É bonito obedecer
Ou então levar com pedras.

Tentei jogar do lado de Deus
Pensei aí já ter vantagem
Mas neste mundo de ateus
Deus é apenas uma imagem,

Uma imagem de perfeição
Algo que não pode existir
Tive que aos ateus dar razão
Deus se existe anda a dormir...

Deus é algo controverso
Perfeição assim Lhe chamam
Ele criou o Universo, criou o Seu próprio inverso
E destrói aqueles que não O amam,

Ora aí está um exemplo a seguir
Destruir quem não Te quer amar
Peço desculpa por me insurgir
Mas então só Deus pode matar?

Numa das linhas dos Mandamentos
"Não matarás" tem que ser brincadeira
Pois o Dilúvio noutros tempos
Afogou uma raça inteira,

Então se Ele pôde matar em massa
E se devemos seguir seu exemplo
A vida tem então outra graça
Trazemos sangue para o Seu Templo,

Matemos como prova de que O seguimos
Mesmo sem saber muito bem porquê
Ou talvez só porque sempre ouvimos
Que a toda a hora Ele nos vê...

Mas então ele vê o quanto sofro?
Está Ele a ver que vivo em fuga?
Não vê que a cada segundo morro
E que peço a Sua ajuda?

De que me vale então rogar
Preces que são feitas em vão?
O Diabo vem-me buscar
E eu não vou dizer que não.

Ao menos o Diabo é verdadeiro
Dá-te tudo o que prometeu
Podes pedir o mundo inteiro
Porque todo o mundo é Seu

É só uma questão de tempo
Pois o Seu Reinado ainda dura
Enquanto Satã oferece Anarquia
Deus oferece Ditadura.

Não importa como vives
Um dia encontrarás o mesmo que eu
Vês que vives no Inferno
E que não há porta para o Céu,

Então faço um pacto com o Diabo
Corto a veia da minha mão
Sangro um pouco arrepiado
E começo a oração:

Se não fores igual a Deus
Se não me punires quando errar
Se me acudires nos medos meus
Se vieres quando te invocar,

Se não me condenares por desesperar
Se não me julgares por ter riqueza
Se me deixares retaliar
A quem me causar tristeza,

Se me deres uma boa vida
Sem ter que devolver dez por cento
Se puder ser uma pessoa bem sucedida
Sem ter que aturar a merda do Julgamento,

Se tudo isto tu cumprires
Se em nada disto tu falhares
Se só a alma me pedires
Então leva-a sem hesitares.

Eu faço um pacto com o Diabo
Para me dar o que Deus não me deu
Talvez por isso seja amaldiçoado
Mas que se foda, eu sou ateu!

Prefiro sofrer só no fim
Do que viver em sofrimento
Afinal isto é um jogo
E eu sou só entretenimento.

Querem julgar-me?
Ameaçar com o Inferno?

Para mim Inferno é a vida em castidade
Inferno é ter que dar a outra face
É ter o Papa como Divindade
E temer Jesus como se algum dia regressasse,

Inferno é ser chantageado por Padres ou Pastores
Que afirmam ter que se amar Jesus
Quando depois nos bastidores
Seguem o exemplo do Carlos Cruz!

Isso sim é o Inferno
É viver à religião subjugado
É acreditar no cristão eterno
Que pensa ter no Céu um lugar guardado

Inferno é não ter liberdade
É em confissão ao Padre não poder dizer:
Não representas Deus, tu não és nada
Enfia a hóstia no cu e vai-ta foder!


By
Scorpshine

Inferno


Expande-se a minha alma em queda
Caindo em direcção contrária à luz
Caindo entre escuridão e labareda
Vejo o Inferno e Belzebus...

Ergo os braços na passada
Em direcção à perdição
Sinto que não me resta nada
A não ser o coração.

As luzes que vejo são chamas
O calor que sinto é arrependimento
Se sentes falta de quem amas
Então implora o esquecimento.

Porque amar só intensifica
A dor que há em mim
Mas este enxofre mortifica
E no fogo encontro o fim.

Não há espaço para pensar
Não há tempo para saudade
Não há maneira de voltar
E ter uma nova oportunidade...

Lá em baixo ouço tormento
Os anjos sangram de maldade
Sorriem com o meu eterno sofrimento
Escurecendo a eternidade.

Rezo preces em aflição
O meu destino foi assim
Foi uma curta narração
De alguém igual a mim...

Estou perdido e assustado
Fui enganado a meu respeito
Mas qual foi o meu pecado?
Foi ter sido tão perfeito?

Eu jamais matei alguém
Eu jamais traí amigo
Eu amei a minha mãe
E não fui absolvido?

Deus, aceito a pena se me explicares
Oh meu Deus o que de errado fiz eu?
Para agora Castigares
Um fiel súbdito Teu

Que aprendeu Teus mandamentos
Que evitou o Teu rancor
Que se rendeu aos ensinamentos
Que Deixaste ao Senhor...

Porque estou então a ser julgado?
Será que alguém me diz?
Não posso ser condenado
Por algo que eu não fiz!

Tantos olhos me vasculham
Todos eles veem pecado
Peço aos santos que me acudam
Mas sei que já vou atrasado...

Não me vou mais enganar
O meu lugar é no abismo
Nunca consegui amar
Vivi no egocentrismo

Só olhei para mim mesmo
Culpando outro alguém
Mas a vida é assim mesmo
Morrer ou matar alguém...

Não fui culpado de pecar
Fui culpado por sobreviver
Não fui culpado por matar
Fui culpado por viver!

Já sei! Chegou a Luz até mim
Já sei porque fui ao Inferno condenado
Não é por algum mal que tenha feito
É só por não ter sido Batizado!

Resta-me mergulhar nas profundezas
Da injustiça do eterno
Se é este o tal Deus Justo
Então fico no Inferno...




By
Scorpshine

Ainda te sinto


Olho o leito do céu negro
Procurando entre as estrelas o brilho dos teus olhos
Vejo o teu sorriso em cada estrela cadente
Sinto o teu beijo e dou comigo a chorar...

...Sigo a estrela polar procurando o norte desta vida
E pergunto-me porque tiveste de partir
Sem teres a delicadeza de me levar contigo
Pergunto-me se onde estás ainda sonhas comigo
Invado-me de tristeza e choro no teu ombro
Como se ainda aqui estivesses...

Choro...
Sofro...
Soluço...
Sinto tanto a tua falta...

Abandono-me na dor da tua ausência
E suplico que me leves para junto de ti
Pois aí estaria bem, aí estaria feliz...
Estaria contigo...
Queria abandonar estas trevas solitárias
E unir a minha alma à tua novamente.

Olha a lua meu amor, não está linda?

A sua luz reflecte-se em meu rosto mas não afasta a escuridão
A sua luz expande amor mas não me aquece o coração
Não como tu aquecias, mesmo antes de partires...
Partiste para esse mundo e não me quiseste levar
Nem mesmo comigo a implorar...
Não me ouviste...
Deixaste que me arrastassem para o abismo da tua ausência
E agora que faço sem ti?

É que eu ainda te vejo...
Ainda te sinto...

Ainda te olho nessa colina onde primeiro te conheci
Ainda te vejo debaixo do luar de cabelos soltos ao relento
Por baixo desta árvore ainda te vejo...ainda te sinto...
Ainda te vejo a procurar-me no lugar errado
Pois eu não voei, não me procures no céu...eu caí...

Ainda te persigo no teu mundo que outrora foi nosso
Ainda te chamo para que encontres o teu rumo
Ainda te sigo pelo aroma do teu perfume...

Agora vai...parte para casa e esconde tuas lágrimas
O vento ainda te dirá que aqui estou
E quando voltares saberás
Que na verdade nunca chegaste a partir
Que na verdade nunca chegaste a falecer
Irás então saber que enquanto o meu coração bater
Viverás dentro de mim
E é por isso que ainda te vejo...
E que ainda te sinto...

By
Scorpshine